As correntes de retorno podem ser definidas como o refluxo do volume de água que retorna para o mar, em virtude da força gravitacional. Essas correntes são as maiores causas de resgates executados pelos guarda-vidas, sendo responsáveis por aproximadamente 85% dos afogamentos que ocorrem no litoral do Estado do Rio de Janeiro.
São consideradas perigosas para os banhistas por fluir, algumas vezes, com velocidade superior a 3m/s e possuir uma habilidade quase mecânica de cansar nadadores ao ponto de fadiga.
Estudos recentes mostram que 70% da população jamais ouviram falar nesse tipo de corrente, 28% já ouviram e somente 2% sabem reconhecê-las. Então, dos 13.806 afogamentos que ocorreram no ano de 2005, estima-se que aproximadamente 11.500 pessoas se afogaram apenas por desconhecer a morfodinâmica das praias. Sendo assim, torna-se crucial a identificação de como, onde e quando essas correntes se manifestam, listando seus principais sinais e características, e a respectiva divulgação através da mídia, para a efetiva redução do alarmante número de casos de afogamento que ocorrem anualmente.
Esse tipo de movimentação de água é verificada com freqüência em praias rasas, intermediárias e de tombo, manifestando-se de formas diferentes em cada uma delas. Sua ocorrência depende de fatores como:
1. Topografia do fundo;
2. Altura das ondas;
3. Período das ondas;
4. Proximidade das ondas da linha da costa;
5. Ocorrência de marés descendentes;
6. Intensidade das correntes laterais;
7. Convergência de duas correntes laterais para um mesmo ponto ao longo da praia;
8. Ocorrência de grandes ondas que elevam rapidamente o nível de água, rompendo o banco de areia em um determinado local;
9. A existência de lajes de pedra ou coral próximos à linha de arrebentação.
Sinais e características das correntes de retorno
1. Água marrom e descolorada, devido à agitação da areia do fundo, causada pelo retorno das águas;
2. Água com tonalidade mais escura, devido à maior profundidade, sendo atrativas para banhistas desavisados;
3. Água mais fria após a linha de arrebentação, significando o retorno de águas mais profundas;
4. Ondas quebram com menor frequência ou nem chegam a quebrar, devido ao retorno das águas e à maior profundidade;
5. Local onde ocorre a junção de duas ondas provindas de sentidos opostos;
6. Local por onde o surfista experiente geralmente entra no mar;
7. Nas marés baixas, formam ondas do tipo buraco, alimentadas pela água em seu retorno;
8. Pequenas ondulações na superfície da água, causando um reboliço, em virtude da água em movimento (pescoço da vala);
9. Espuma e mancha de sedimentos na superfície, além da arrebentação, onde a vala perde a sua força (cabeça da vala);
10. Ocupação de uma faixa maior de areia, devido ao maior volume de água, provocando uma sinuosidade ao longo da praia (boca da vala);
11. Escavações na areia, formando cúspides praiais em frente às valas;
12. Perpendiculares à praia, podendo apresentar-se na diagonal;
13. Delimitam ou são delimitados por bancos de areia;
14. Mais difíceis de serem identificadas em dias de vento forte e mares agitados;
15. Mais evidentes em marés baixas;
16. Perda da força de cinco a 50 metros após a linha de arrebentação;
17. Composição em três partes: boca ou entrada, pescoço e cabeça;
Fernando de Noronha
Tipos de correntes de retorno
As correntes de retorno localizam-se ao longo de toda a extensão das praias, têm tempos de duração variados e manifestam-se de diferentes formas, sendo classificadas em quatro tipos: fixas, permanentes, temporárias e instantâneas.
a) Fixas
Os cantos de pedra como costões, molhes e piers são exemplos de estruturas que formam correntes de retorno fixas. São caracterizadas por permanecer na mesma área por vários meses ou anos. A razão dessa permanência é que o fundo e as condições físicas nesses locais sofrem poucas mudanças.
Manifestam-se em virtude da convergência de correntes laterais para o canto de pedra ou pela ocorrência de grandes ondas que elevam rapidamente o nível de água. Bons exemplos de valas fixas são: o costão do Leme, canto direito da praia do Diabo, Arpoador, quebra-mar, na Barra da Tijuca, Pedra dos Cabritos, no Recreio dos Bandeirantes, Pedra da Dona Maria, na praia da Macumba, canto direito da Prainha do Grumari, canto direito do Grumari, canto direito da praia de Itacoatiara e o canto esquerdo da praia do Forte, em Cabo Frio, que apresentam grandes estatísticas de socorros por afogamento.
Arpoador
b) Permanentes
As correntes de retorno permanentes ocorrem em determinados pontos das praias rasas e intermediárias, manifestando-se, também, em algumas praias de tombo. Uma vez completamente estabelecidas, podem durar vários dias ou meses, dependendo da movimentação de areia.
As valas permanentes são formadas por sulcos profundos escavados na areia, o que representam condições favoráveis para o retorno das águas no sentido do mar. Esses sulcos são formados pela convergência de correntes laterais para um mesmo ponto ao longo da praia, fluindo em direção ao mar na forma de uma corrente estreita e forte, denominada “fieiro da vala”, e pela ocorrência de ondas mais altas que a média que se rompem em uma sucessão rápida e elevam o nível da água dentro de um banco de areia, a água pode voltar tão energicamente ao mar que, em alguns casos, rompe o banco em um lugar estreito, produzindo uma corrente em sentido oposto à praia.
Nas praias rasas, intermediárias e de tombo a existência de lajes de pedra ou coral próximos à linha da arrebentação, faz com que as ondas quebrem com maior freqüência devido à menor profundidade, favorecendo o refluxo, formando valas permanentes, devido ao constante retorno de água pelo mesmo local.
Alguns locais onde existem esses tipos de valas são: posto 8 em Ipanema, posto Bob´s, 4 e 5 na Barra da Tijuca, canto direito da praia de Itaipuaçu, diversos pontos das praias de Cabo Frio e Geribá etc.
Praia da Barra
Praia de Ipanema
c) Temporárias
As correntes de retorno temporárias ocorrem em determinados pontos das praias rasas e intermediárias e de tombo. Apresentam sulcos pouco profundos, não possuem estabilidade, são temporárias e duram apenas algumas horas. Este tempo irá depender da movimentação de areia pelas correntes laterais. As ondas que se rompem colocam a areia em suspensão, facilitando o transporte dos grãos.
Praia de Ipanema
Praia de Ipanema
Praia de Geribá
Praia da Barra
d) Instantâneas
Essas correntes de retorno aparecem de repente, logo após grandes séries de ondas se aproximarem da praia, trazendo um grande volume de massa líquida, formando um refluxo de água que retorna para o oceano. Não existe a formação de sulcos no fundo, desaparecendo rapidamente. São bastante comuns nas praias de tombo devido a inclinação, e intermediárias em virtude da proximidade das ondas em relação à praia. Ambas as praias favorecem o refluxo de forma instantânea.
Praia de São Conrado
Praia Norte-Americana
COMO ESCAPAR DAS VALAS E DAS ONDAS
Se cair em uma vala, não entre em pânico, nade diagonalmente no sentido da corrente até conseguir escapar. Um nadador cansado ou com habilidade limitada deve flutuar para dentro do mar, até a cabeça da vala, nadar paralelo a areia por 30 ou 40 metros e então prosseguir em um trajeto perpendicular à praia, pelo baixio (banco de areia), onde as ondas facilitarão a saída do mar (fluxo de água no sentido da areia). Nadadores fortes devem traçar um ângulo de 45 graus a favor da corrente lateral e nadar em direção à praia. Mesmo os melhores nadadores não devem nadar contra as correntes de retorno. Deve-se sempre observar as ondas, pois quando elas se rompem (quebram), formam espumas que não têm sustentação para permitir a flutuação. Se uma onda for “quebrar em sua cabeça” e não houver como escapar dela, encha os pulmões de ar, prenda a respiração, afunde, mantenha a calma e só tente subir após a forte turbulência ter passado.
O jazigo, também chamado de calmaria, é o intervalo entre uma série e outra, quando não quebram ondas. Durante o jazigo, ondas menores poderão surgir, porém não farão parte da série. O número de ondas em uma série e a duração da calmaria entre elas é consistente em um swell (vagas formadas em alto-mar pela ação do vento, que chegam no litoral), porém varia entre swells. Durante a calmaria, os freqüentadores das praias geralmente caminham mais para dentro do mar, pois o volume de água dos bancos de areia diminui. Quando a nova série de ondas retorna, este volume aumenta rapidamente, podendo conduzir o banhista diretamente para a vala. Essa é mais uma das principais causas dos inúmeros afogamentos ocorridos nas praias rasas, intermediárias e de tombo.
Conhecendo-se o tempo de calmaria entre os seriados, o banhista poderá entrar ou sair do mar usando o mínimo de esforço.
Matéria escrita pelo Major Marcelo Pinheiro, Subcomandante do 3º GMar, e reproduzida pela Assessoria de Comunicação Social (ACS)
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